segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Futebol

Quando aquele time forrado de negros pobres, inexperientes e “emocionalmente instáveis” (segundo o laudo do médico da delegação), aos 3 minutos de partida, levou o primeiro gol do jogo final da Copa do Mundo de 1958, não houve quem pensasse ser possível uma reação. Aquela gente semi-profissional, distante de casa, num lugar frio-até-mesmo-no-verão, não teria estolfo psicológico para reverter o quadro estabelecido. Não teria.

Eis, então, que Didi, o Príncipe Etíope, vai até o fundo da rede do gol brasileiro, pega a bola, toma-a em seu braço e vem caminhando lentamente, passo a passo, desde o gol até o meio do campo. Caminha e fala com seus companheiros. Fala com todos eles, um a um. Sem pressa. Com mestria.
Quanto tempo durou aquela caminhada? Que palavras o mestre disse? Somente a bola, sob seu braço, poderia dizer. Somente ela viveu aquele momento mítico. Somente ela viu o tempo parar para ouvir as palavras de Didi.

Toda aquela serenidade provinda da inesgotável sabedoria daquele mestre negro distante de sua casa fez com que o gol sofrido não fizesse sofrer nem um dos jogadores daquele time.

Aos 9 minutos, Vavá empatou o jogo. Aos 32, virou o jogo. Daí em diante, só restava esperar pela goleada. Os 5 x 2 estampados no placar do estádio ao final do jogo revelavam mais do que a seleção campeã do mundo. Traduziam, em números, a ação de um verdadeiro Maestro: ter o domínio pleno, total e absoluto do Tempo.

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