quinta-feira, 9 de abril de 2009

Literatura

Em 20 de outubro de 1846, Fiódor Dostoiévski escreveu a seu irmão Mikhail:
“Todos os meus planos foram por água abaixo... Abandonei tudo o que estava escrevendo, já que isso não passava de uma repetição de coisas velhas. Agora idéias mais originais, vivas e luminosas brotam de mim no papel... Estou escrevendo outra novela, e o trabalho vai de vento em popa, está saindo com facilidade e frescor, como nunca...”
A “novela” a que o grande escritor se referia é A Senhoria, publicada no ano seguinte.
Muito já se falou sobre essa carta ao irmão, sobre a “novela”, sobre Dostoiévski.
A mim, salta-me aos olhos uma frase grafada na carta ao irmão: Abandonei tudo o que estava escrevendo, já que isso não passava de uma repetição de coisas velhas.
O grande escritor – como, de resto, o grande artista – é capaz de estabelecer para si normas tamanhamente nítidas, honestas e verdadeiras acerca de sua obra que nenhum crítico ou apreciador jamais alcançará.
Dostoiévski olhou para o que estava a escrever, pôde avaliar com o necessário distanciamento, pôs à prova seu próprio talento, sua própria obra, pôs em xeque a si mesmo e concluiu que caminhava por uma estrada que não o levaria ao lugar onde ele sabia que poderia chegar.
Justamente porque fez esse trabalho árduo, íntimo, doloroso, foi que conseguiu alcançar o mais alto cume da literatura mundial. Conseguiu alçar o grande vôo.
Brahms fez algo semelhante. Conto amanhã, em “Música”.

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