terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Teatro

Imagine, meu caro colaborador, que você é dono de uma grande empresa. Sua empresa fatura uma montanha de dinheiro. Seus lucros são crescentes, sua situação é cômoda, seus impostos estão pagos, seu império infla a olhos vistos.
De tal modo, seu tempo é escasso. Seus compromissos são muitos. Seus horários, todos apertados. Evidentemente, não há espaço em sua agenda para que você trate de... teatro. Ora, há coisas muito mais importantes com que se preocupar.
Assim, na intenção de não parecer aos seus clientes aquilo que você realmente é – alguém que “não colabora com a Cultura do país” –, você constitui um departamento minúsculo, dentro de seu inchado departamento de marketing, para tratar de seus interesses pelo teatro.
Seu gerente de marketing nomeia um funcionário para cuidar do setor. Um ninguém que não faz peso onde quer que fique. Afinal, vai tratar de “mixaria”, mesmo.
O coitado, acostumado a ser tratado como o “ninguém” que é, ao se ver chefe de um departamento, acredita que é “alguém”. Aproveita a chance que a Vida lhe deu e... se vinga de toda a humilhação pela qual passou na vida: faz pose, não atende o telefone, não responde email, não lê as cartas, não fala com ninguém. Não recebe os artistas, quer receber entradas gratuitas para os espetáculos. Recebe os projetos, mas não os lê. Não sabe ler direito, o infeliz!!!
Sua empresa, meu caro colaborador, continua crescendo. Você continua enriquecendo. Sua tíbia intenção de “colaborar com a Cultura do país” continua viva. Só uma coisa vai morrendo pouco a pouco: o Teatro Brasileiro.Você? Você nem fica sabendo. Ora, há coisas muito mais importantes com que se preocupar...

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