quinta-feira, 29 de maio de 2008

Literatura

Como frisou aqui, na semana passada, o compositor Vanderlei Lucentini, “falar sobre a Virada Cultural é um assunto muito espinhoso”. Falar sobre qualquer ação cultural cujo nascedouro seja um órgão governamental é muito espinhoso.
Contudo, atrevo-me a concordar plenamente com o que foi escrito neste espaço há uma semana. O governo da cidade de São Paulo gastou... perdão: investiu 9 milhões de reais no grande e “orgiástico” evento.
Trouxe para apresentações públicas nomes famosos (principalmente da atual música popular brasileira) que, em tese, arrebanhariam uma quantidade gigantesca de público. De fato, arrebanharam. O público compareceu aos shows gratuitos. E aqui a notícia carece de exatidão: gratuitos?
Ora, ora, ora... De onde é que provêm os preciosos Reais que pagaram tais atrações? Por acaso tal dinheiro não provém de impostos pagos pela própria população da cidade?
Permitam-me mais um par de perguntas: Por acaso, ao longo dos 364 dias que antecedem a Virada, a população tem acesso a espetáculos culturais? Por acaso, após o dia da Virada, ao longo dos 364 dias que a sucedem, a população pode assistir a um show gratuitamente?
Finalmente, para que eu não me alongue em inúmeras perguntas, só mais uma: Por acaso os músicos, atores, escritores, artistas, enfim, “não-famosos” não produziriam muita cultura ao longo de 365 dias com o montante gasto num dia só?
Questionará o leitor ranzinza: “e o que é que isso tem a ver com Literatura?”
Dê uma olhada nos jornais da época da Virada. Dão ampla e total cobertura ao evento. Tente ir a um jornal pedir para que se divulgue um show seu, uma peça sua, um livro seu.

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