Teatro

O Coro postado ao fundo do palco. Alguns dos atores do Coro choram contidamente. Outros, copiosamente. Todos olham fixamente para a platéia.
À frente do Coro, o Protagonista. Olhos marejados, fixos no público. Voz embargada. Surge o texto:
- O que aconteceu aqui, hoje... Olha, vocês precisam nos ajudar... Não quero ofender ninguém. Só não queria que falassem que o Botafogo amarela nas finais e que não vence o Flamengo há não sei quanto tempo. É vergonhoso o que aconteceu. Sinto muito, mas esses aqui são os verdadeiros campeões cariocas.

Um ator dá o seu texto:

- Depois daquilo, não agüentava mais jogar. O futebol carioca vem tentando ganhar credibilidade, mas a arbitragem joga tudo por água abaixo. Eles foram na concentração dar uma palestra, mas apenas tomaram o nosso tempo. Só continuo a disputar o Campeonato Carioca porque tenho contrato. Sei que o que vou falar pode prejudicar nossa renda mas, se fosse torcedor, não assistiria mais, nunca mais viria aqui ao Maracanã assistir aos jogos dessa competição.

Outro ator, o texto similar:

- Não estamos reunidos aqui porque perdemos. Faríamos o mesmo em caso de vitória. Todos dizem que o Botafogo é o time do “quase”, mas fomos prejudicados em todas as decisões.
Não bastasse a cena inusitada, surge no palco o dono da Companhia e protagoniza o Inédito:
– Eu estou no Botafogo há 6 anos, e a gente cansa. Hoje é o meu último dia como presidente do Botafogo.
Para fechar a cena da Tragédia, o Bobo da Corte:
– Se o Bebeto sair, espero que vá presidir a Comissão de Arbitragem. Só assim a gente vai conseguir ganhar do Flamengo.
Ufa! Que peça! E quem disse que o Futebol não é Arte?