Um bom filme ou um bom filme brasileiro?
Essa questão sempre me vem à mente quando assisto a um filme produzido em terras tupiniquins. O filme é bom se comparado a outras cinematografias, ou é bom se comparado somente no âmbito caseiro?
Na realidade ouço esse comentário do público de maneira geral, e infelizmente, salvo raras e honrosas exceções, o público tem total razão.
O filme brasileiro ficou com uma “cara” no sentido pejorativo. Não pretendo comparar um filme brasileiro a um blockbuster hollywoodiano, mas sim confrontá-lo com outras cinematografias, como a argentina, que tem um mecanismo de produção muito próximo ao nosso.
Se no passado essa “cara” era caracterizada pelo som e imagem sofríveis, hoje está ligada a roteiros fracos, pobreza narrativa, atores mal dirigidos, mesmo que o “perfume” de um cuidado técnico mais elaborado tente disfarçar. O dinheiro distribuído generosamente nos últimos anos pelas leis de incentivo supriu a antiga deficiência técnica, mas não consegue comprar bom gosto e criatividade de nossos roteiristas e diretores e muito menos o bom senso dos nossos produtores. Por esses e outros motivos, vamos continuar ouvindo: o filme é legal para um filme brasileiro. Salvo raras exceções como já tinha dito.
Wilson Boni (Diretor de fotografia e Professor de cinema)
2 comentários:
Puxa vida, Boni, que texto maravilhoso! Adorei ler o que você tinha a dizer. É sempre bom saber o que pensa alguém "da área", alguém que vive aquilo no dia-a-dia. Agora não mais ficarei com urticárias ao desgostar de um filme brasileiro.
'Inda outro dia li uma reportagem sobre a Direção de Atores do filme "Tropa de Elite". Apesar de o filme ser um dos melhores da lista de Filmes Nacionais, o que li me assustou: preza-se a "emoção" do ator. Você acredita que, com exceção de um dos atores, nenhum outro teve acesso ao roteiro? É assutador, não?
Afinal, pede-se que o ator reaja, e não que ele aja; não se exige do ator uma preparação da personagem, a fim de torná-la coerente. No fim das contas, o que se quer é "espontaneidade", e não Arte no sentido mais estrito da palavra.
Triste.
Eis a questão: enquanto a maioria (e aqui incluo pessoas que se consideram, muitas vezes, entendidas e cultas) acharem que bons diretores e roteiristas de cinema são os mesmos que fazem as benditas novelas...e que os atores devem ser os mesmos das novelas...e que tudo deve ser transferido da Globo pro cinema, vai continuar pobre e pobre e pobre.
Não há como fugir da comparação com outros países, outras culturas.
Jack Nicholson faz novela/seriado?
Altmann faz reallity?
Antonioni fez alguma novela?
Fellini, então, fazia comentários pro Fantástico?
Pois é. Aqui, celebridade trabalha na Globo. E cinema deve ser feito por celebridades. Sendo assim...
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