A salvação pelo teatro
Não, não se trata evidentemente de um texto de caráter evangélico ou apocalíptico. Bem, talvez apocalíptico.
Há dois exatos anos conversava com um grande professor, Antonio Januzelli, o Janô, colega e mentor de uma legião de artistas brasileiros formados pela EAD, USP e centenas de outros lugares onde a arte teatral é exercitada através da improvisação e da interpretação. Tratávamos justamente do tema: o que vai acontecer ao teatro?
O teatro vive mais uma vez um ciclo de renovações – jamais falarei em crise. Porque ao longo da história do teatro, mesmo quando não havia esta competição ensandecida com a vênus platinada (a TV), o teatro enfrentou dificuldades de todos os tipos. Quer uma “recente”? Na década de 20, todos diziam que o cinema ia destruir o teatro, pois agora não tinha mais só imagem, tinha som também.
Nós, artistas, temos naturalmente a preocupação de como perpetuar o fazer teatral. Não podemos esquecer que nós também somos mestres na arte de encontrar saídas para a nossa sobrevivência. O artista não é, já sabemos na idade madura, apenas um sonhador. É um realizador, um ser que através das suas concretizações – cênicas, poéticas, líricas, imagéticas... – tem a capacidade de modificar a vida dos seus semelhantes através da arte e de todos os instrumentos que ela fornece.
E o Janô me diz então que nós precisávamos nos preparar, porque o teatro daria um salto qualitativo em breve. O espectador, dizia ele, vai necessitar viver a arte no próprio corpo. Além de público, ele vai precisar ser atuante, pois os mecanismos da vida contemporânea vão levando mais e mais as pessoas ao desespero, à solidão, à dúvida, e à incerteza sobre as suas próprias existências. A violência é apenas parte (muito significativa) deste contexto.
Quando vou ao shopping e vejo homens e mulheres se batendo fisicamente por uma vaga para seus carros; ao ver na rua um motorista puxar a arma para o outro que passou na sua frente; ao ler tanta desgraça causada por tolices mínimas (ou seriam máximas?), sou forçado a acreditar que o Janô estava certo, mas o momento chegou mais rápido do que pensávamos.
Portanto, ao teatro, meus caros! Ao teatro!
Fausto Viana (Diretor e Doutor em Teatro)
2 comentários:
Belíssimo Artigo!
Apenas gostaria de saber do Diretor Fausto Viana se ele tem um Blog ou um Site. Foi muito interessante ver o Site/Blog do jornalista Paulo Grange e gostaria de ler mais coisas desse maravilhoso diretor de teatro.
Grata
Janete Lugano
Concordo com a Janete.Muitobom esse blog!
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