quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Cinema

O Grande Ditador.
Há quem diga que o filme de Charles Chaplin não faz parte da imensa lista dos “melhores filmes da carreira de Charles Chaplin”. Há quem diga que, após todos os brilhantes filmes da era do cinema mudo, Chaplin tinha “dificuldade em lidar com a linguagem”, que “os planos-seqüência eram muito longos, a encenação ainda muito ligada à era em que não se falava no cinema”.
No entanto, mais do que apontar tais ou quais prováveis defeitos, é preciso ressaltar toda a genialidade de Chaplin num único fato: ele percebeu tudo. Antes de todo mundo. Que percepção acurada tinha o maior cineasta que Hollywood conheceu!...
O filme foi feito no ano de 1940. O mundo todo ainda não se dera conta do bárbaro-atrás-do-ridículo-bigode. O ditador alemão era admirado, endeusado, não apenas dentro dos portões da Alemanha. Chaplin ridiculariza o histórico do alemãozinho na Primeira Guerra Mundial, ridiculariza seus elos com o fanfarroníssimo Mussolini, ridiculariza a origem morena e austríaca do ditador, ironiza seu poderio, sua insegurança íntima, sua dependência do cérebro de Göebbles, sua vaidade, sua pequeneza. Antes de o mundo saber quão pateta era Hitler, Chaplin já o houvera ridicularizado ampla, total e completamente.Chaplin viu quem era Hitler, previu em que ele se transformaria, percebeu tudo. Antes de todos. É a marca do gênio.

Um comentário:

Fabiana disse...

Ah, sem dúvida, sem dúvida... Vista de longe (refiro à distância temporal), parece óbvio que o bárbaro-atrás-do-ridículo-bigode era um bárbaro-atrás-do-ridículo-bigode. Mas ali, antes de todos, antes de tudo... só um Gênio. Por isso, a importância de "O Grande Ditador" não reside apenas na cena - que se tornou célebre - do "Ditador brincando com o Mundo". Também reside nisso, mas não só. A importância do filme está nos olhos do Diretor que, com a lente de aumento empunhada, viu de perto, muito perto, o que os mortais só viram tempos depois.

Genial.

E aqui fica uma pergunta: o que teria dito, ou ao menos pensado, o bárbaro-atrás-do-ridículo-bigode quando em contato com o filme de Chaplin? Provavelmente nem chegou a ver a feliz paródia de seu ridículo ser, mas a pergunta fica no ar...