segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Futebol

Ao longo de grande parte de minha tão longa vida tive a certeza de que no dia em que Dorival Caymmi morresse, eu morreria junto. Minha predição não se concretizou. O gênio se foi e cá eu fiquei, a ver mais navios do que O Mar. “Fiquei”, não: ficamos. A música popular brasileira e eu; a música brasileira e eu; a música popular mundial e eu; a música mundial e eu. Uma tristeza profunda e a confirmação da perda irreparável tomaram conta daqueles que sabem que a Música encontrou em Dorival Caymmi um meio de falar a todos, valendo-se de complexidade melódica, substancialidade harmônica e simplicidade literária. A Música precisava de Dorival Caymmi. Ele deu-se a ela. Agora que ele se foi, muito mais a Música precisará de que não nos esqueçamos dele. De seus acordes sustentados pelas escalas descendentes nos baixos; de suas frases melódicas pautadas pela delicadeza de movimento; de seus versos econômicos, alegóricos, precisos.Nosso Blog está de luto.Nada disso!Passaremos a semana que sucederá a morte do Mestre falando dele. Falando sobre ele. Falando o nome dele. Nós sabemos que “o nome, a obra imortaliza”.
Não ficaremos, aqui, qual Rosinha de Chita, “que era bonita e agora parece que endodeiceu”. Não ficaremos “à beira da praia olhando pras ondas, dizendo baixinho: ‘morreu, morreu...’”. Nada disso. Ficaremos a nos lembrar – a não nos deixarmos esquecer – de que, menos por obra de Deus, mais por obra de Dorival Caymmi “o mar, quando quebra na praia, é bonito... é bonito”.

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