quinta-feira, 19 de junho de 2008

Literatura

Li, semana passada, uma crônica escrita pelo professor Darcy Ribeiro. A crônica tratava do Golpe Militar brasileiro, em abril de 1964, e foi publicada no ano de 1984. Vinte anos depois.
Ao se ler a crônica, pode-se ver cada passo do Golpe. Cada articulação, cada entranha. É uma Biografia completa. Precisa. Perfeita. Uma Biografia escrita sem a etapa da Pesquisa. Sem entrevistas, coleção de dados, de datas de fatos. Uma Biografia perfeita de um marco histórico. Escrita apenas e tão-somente com a pena de quem viu e viveu cada fato, cada momento, cada instante. De quem viu e viveu, com olhos atentos de grande observador, um tempo histórico fundamental para a compreensão do tempo histórico que se vê e vive hoje, 44 anos depois. Uma Biografia perfeita, que poderia ser confundida com um texto opinativo. Entretanto, o que difere a Biografia escorreita do texto opinativo é a precisão do Conceito. Nada grafado na crônica foi, pode, ou virá a ser negado. O que está grafado ali revela um fato literário: o bom escritor, por vezes, pode prescindir de pesquisa, de entrevistas, de dados precisos, de comprovações. Ele não escreve uma tese acadêmica. Ele escreve Literatura. A comprovação do que o escritor grafa vem com o tempo. Mais dia, menos dia, percebe-se que o escritor está certo. Está certo ao prescindir da comprovação instantânea. Está certo ao escrever para a Posteridade. Está certo ao escrever.

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