Vamos sair da “Estação de Trem”?
Como estudioso de som no cinema, fico pasmo ao perceber que a história gira em círculos, como um moinho d’água, cuja força motriz é o pensamento arcaico e por vezes a superficialidade humana. Digo isto pois estamos vivendo em uma era na qual o som do cinema está muito rico – ao mesmo tempo, desperdiçado. É como tomar vinho com Coca-Cola.
Existem muitos filmes com um bom trabalho sonoro mas, por algum motivo, parece-me que muitos dos Sound Designers (criadores, montadores e mixadores de som) da atualidade ficam receosos em ousar e acabam optando pela segurança dos clichês. “Já que a personagem é uma mulher, sonorizarei seus passos com um som de salto-alto, é claro”. Lembro-me bem de alguns momentos de filmes com idéias sonoras simples e interessantes. Por exemplo, no Clube da Luta, a personagem de Helena Bonham-Carter anda pela casa e o som de seus passos é muito pesado, soando como um homenzarrão usando botas. Ao revelar a figura feminina – até um pouco baixinha e franzina –, percebemos que há muito mais sobre esta personagem do que sua mera aparência pode nos dizer.
O som é 50% de um filme. Mas só terá direito à sua parte se contar a história. Aí reside a diferença entre o Sound Design e a mera “inserção de ruídos”. É preciso modernizar urgentemente aquele conceito antigo e arcaico, no qual os filmes não tinham enredo nem som, eram apenas imagens de situações mundanas: “Um Trem Chegando à Estação”.
Pedro Lima
Sound Designer, Técnico de Edição e Mixagem de inúmeros filmes brasileiros e internacionais.
2 comentários:
Eu gostei, eu gostei, eu gostei, eu gostei! Pena que não tem a assinatura do autor do texto, que é o Pedro Lima, o sound designer mais bacana do pedaço!
;)
Parabéns!
A Kelma tem razão ! Eu também gostei ! Não vi o filme e vou assistir .
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