quarta-feira, 30 de abril de 2008

Cinema

O cinema americano aprendeu com Machado de Assis.
Não é no tipo durão do protagonista, nem no traço misterioso da personagem coadjuvante, nem na mítica beleza desconcertante da atriz que interpreta a personagem Gilda que reside a âncora narrativa de Gilda. É na personagem mais-do-que-secundária de Uncle Pio.
O “Tio Pio” ocupa, na trama do filme, um lugar similar ao ocupado pelas personagens negras – por vezes recém-libertas, por vezes ainda escravas – em vários romances do maior escritor brasileiro.
Machado de Assis. Em regra, Machado pinta o protagonista com cores cruas: ele é branco, fraco, frouxo, mole, débil. Não raramente, é corno. Em compensação, pinta a escrava negra com cores vivas. Ela está presente, disposta, pronta, todo o tempo. Em todas as vezes que requisitada, lá está ela. Sempre que necessária, surge a figura serena e precisa da escrava negra. São personagens “uterinas”. Ocupam o local da Passividade durante todo o tempo em que delas não se espera a Ação. Contudo, ao chegar o momento, agem e expulsam a Vida de dentro de si.
“Tio Pio” demarca passo-a-passo a personalidade das personagens centrais do filme: o protagonista é um plebeu; o coadjuvante, o boçal que dispõe de poder; Gilda, a beleza que carece. De tudo.
As frases curtas e as expressões cômicas impõem ao texto o olhar externo de quem acompanha a trama desde o lado de dentro.
Mais. Quando é necessário, quando a trama o requer, “Tio Pio” age. Correta e definitivamente. Decide a história. Lá, de seu pequeno lugar, empresta Grandeza ao filme.
Semana que vem, Floresta Petrificada.

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