quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Literatura

Olho para o mercado editorial e constato: basta ser famoso.
Há cerca de dez anos, a grande dificuldade em ser um cidadão brasileiro famoso era o fato de não poder morrer. Bastava morrer e uma analfabeta qualquer com os cabelos pintados de amarelo surgia pululante a dizer que tinha sido namorado do pobre defunto e logo escrevia um livro sobre a vida dela, dele... pouco interessa. O que interessa é que ela escrevia o livro, vendia um número assombroso de cópias e, imediatamente, se tornava tão famosa que enterrava a fama do ex-namorado dois meses após a morte do ex-famoso namorado. Ela passava a brilhar nas capas de revista e rapidamente ganhava um programa de televisão, uma coleção de fãs e passava a trocar de namorados sem ter de matá-los.
Hoje em dia, não. A coisa mudou. O barateamento dos custos da produção de um livro, a diminuição das tiragens nas edições dos livros e o flagrante empobrecimento da capacidade intelectual do leitor brasileiro trouxeram-nos a realidade: qualquer um escreve um livro. Seja uma besteira pseudo-psico-analítica, seja uma insanidade pseudo-religiosa acerca de Deus, seja a estultice pura da pseudo-auto-ajuda.
Hoje em dia, infelizmente, o leitor brasileiro se rende à ditadura da mídia e à ditadura de seu próprio despreparo. Chego a ter melancólica saudade do leitor alemão de 70 anos atrás que, mesmo sob a ditadura de Hitler, impôs ao Führer o número humilhante de vendas ao seu patético livro: 5 mil exemplares.

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