quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Cinema

John Boorman tinha um orçamento mínimo para fazer o filme. No transcorrer do processo de filmagens, o orçamento foi cortado pela metade. O diretor, em pessoa, custeou o restante da produção. Inventou recursos de filmagem para baratear a produção. Fez o filme.
Os acordes do Parsifal, de Richard Wagner, acompanham as primeiras imagens que surgem na tela. A sincronia é perfeita, a métrica é perfeita, a harmonia é perfeita.
Uma a uma vão surgindo as personagens da saga do Rei Arthur. Passo a passo vai-se contando, mais do que a história de Excalibur, a espada cravada na pedra, a decisiva história da chegada do Catolicismo aos reinos saxões e a lenta, gradual e dolorosa supressão da Tradição Bretã pela Religião Cristã. Merlin; Morgana; Viviane, A Senhora do Lago; dão lugar ao Kyrie Eleison (“Senhor, tende piedade de nós”) que soa suave e delicadamente na trilha sonora que banha a cena do casamento do Rei Arthur com a Princesa Guinevere. Wagner é substituído pelo Canto Gregoriano. Os bretões vãos em busca do Santo Graal, era feita a intrincada transição de uma entre tantas Tradições para a globalizante Religião Católica. Uma transição cerceante, dolorosa, porém inevitável.
Entre as inúmeras cenas e falas inesquecíveis do filme, uma salta aos olhos e ouvidos. Os Cavaleiros do Rei vencem todas as batalhas e unificam o Reino. Pela noite, sob a luz dos archotes, sobre o dorso de seu cavalo, Arthur, o Rei da Bretanha, promete aos seus fiéis cavaleiros construir o Corpo de um Império:
“Vou construir uma Távola Redonda, em torno da qual nos sentaremos e falaremos sobre nossos feitos. Em torno da Távola, construirei uma sala. Em torna da sala, um castelo...”
E promete dar a tal Corpo, seu Espírito:
“... e, então, eu me casarei.”

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