quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Cinema

Eu era amigo de uma moça. A moça namorava um rapaz, de quem fiquei amigo algum tempo depois. Nada mais normal, mais natural.
A certa altura, à beira do casamento, o rapaz fez uma falseta e... terminou o namoro com a moça. Ela entrou em pânico, parafuso, crise profunda.
Falei com ela inúmeras vezes. Pouco do que eu dizia era capaz de consolar sua alma tão aflita.
Falei com ele uma única vez. Ele estava ciente, convicto, decidido.
Um belo dia, ela me aborda:
– Eu soube que você se encontrou com ele. Ele falou alguma coisa sobre mim?
– Não vou dizer.
– Ah!, diz vá... por favor... ele falou de mim?
– Não vou dizer.
– E não vai dizer por quê?
– Porque eu estive com você mil vezes e não contei para ele nada do que você me disse. Por que eu contaria algo do que ele disse?
– Ora, você é mais meu amigo do que dele!
Eis o momento em que a gente cai: o instante do auto-perdão. A fagulha de tempo em que a gente se permite tíbio, débil, fraco. A faísca que transforma a Fidelidade em, “fidelidade para comigo”. A permissividade que dribla a Verdade Absoluta tentando travesti-la em verdade relativa.
Eis Dançando no Escuro, de Lars Von Trier.

Semana que vem: All That Jazz, de Bob Fosse.

Um comentário:

Maíta disse...

UM DOS MELHORES FILMES QUE JÁ ASSISTI. SENÃO O MELHOR.