quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cinema

Gloria Swanson, a atriz, estrela do cinema mudo, andava um tanto esquecida. Cecil B. de Mille, o gigantesco diretor do cinema mudo – e do cinema falado também –, andava um tanto esquecido. Billy Wilder, o mestre do cinema, reuniu-os de um modo absolutamente magistral, genial, sensacional.

Norma Desmond, a personagem interpretada por Gloria Swanson, iludida tanto pela possibilidade de voltar à cena quanto pelo amor que nutria por um escritor fracassado que, acidentalmente, apareceu em sua casa, decide procurar o grande diretor de seu tempo (do tempo do cinema mudo) Cecil B. de Mille para oferecer a ele um roteiro que a traria de volta à cena, de volta à Glória.

A ex-diva pede ao motorista para que tire o antigo e desusado automóvel da garagem. Aporta ao banco de trás o roteirista (brilhantemente interpretado por William Holden) e ruma para um dos grandes estúdios de Hollywood. Um dos muitos estúdios que dela se esqueceram.

O porteiro do estúdio, deslumbrado com a visão da antiga deusa das telas, abre, incontinenti, o portão. O chamativo automóvel conduz Norma Desmond à porta do estúdio onde está a filmar o grande Cecil B. de Mille (que, no filme, interpreta a si mesmo).

Ela adentra o estúdio. Ninguém a conhece, ninguém sabe quem ela é. Menos o grande diretor. Ele vem a ela. Atende-a, trata-a como a deidade viva que ela é. Olha para ela com o olhar de admiração do passado misturado à compaixão do presente. Promete ler o roteiro que ela traz a ele. Despede-se. Pergunta, asperamente, quem a trouxe ali. Ela não merecia tal exposição! Um funcionário esclarece: precisavam de um automóvel antigo para as filmagens de um filme qualquer. O grande diretor ordena que aquilo não mais se repita. O espectador sabe: o tempo passa. Por vezes nem mesmo a glória fica.

Semana que vem: Dançando no Escuro.

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