sexta-feira, 2 de maio de 2008

Música

Minha filha estava a ouvir uma porcaria qualquer que tocava no rádio. Um lixo ao qual ela dá o nome de Hip Hop. Uma batida renitente sob a voz de um infeliz que recita uma pataquada incompreensível.
Mal-humorado, pedi a ela que mudasse de estação.
Contrariada, ela atendeu ao pedido.
Quando o dial passou por uma sonoridade a mim familiar, pedi a ela que deixasse naquela estação. Soavam as notas da Sonata para Piano e Violoncello de Brahms, Opus 99.
Parei o que estava a fazer, sentei-me e permiti que toda aquela música entrasse por meus ouvidos. Era o Segundo Movimento, o Adagio. Fiquei ali, embevecido.
Começou o Terceiro Movimento, o Presto. Aquela música toda, plena em Perfeição, foi tomando conta do ambiente de uma maneira tal que nada mais podia se passar ali.
Ao poucos, fui me sentindo vencido por toda a absoluta maravilha que provinha pelas ondas do rádio. Fui sendo derrotado pela magnificência de Brahms. O gênio alemão esgotou-me as forças. Chamei minha filha:
– Filha!, bota aí aquela porcaria de novo, vai.

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