Para o Jogo. Para o Mundo.
Nunca desde a sua independência um presidente defendeu tanto os interesses da Bolívia quanto Evo Morales. Nacionalizações de empresas estrangeiras, a retomada da luta (diplomática) pela saída ao mar, a manutenção da soberania e uma peregrinação pelo mundo a conseguir apoio para permitir que a seleção daquele país jogue perante o seu povo. Estranho.
É isso mesmo. De acordo com a FIFA, não podem ser disputados jogos entre seleções nacionais acima dos 2.750 metros de altitude. Com isso, capitais como Quito (Equador), com 2.850 metros, e La Paz (Bolívia), com 3.660, “casas” de suas seleções, não poderiam receber esses jogos. Aos olhos de todos não há problemas: qual a importância do Equador e da Bolívia na economia e para o futebol mundial? Se aumentassem a restrição por mais alguma centena de metros, a Cidade do México estaria de fora. Perder-se-iam o poder e o dinheiro mexicanos. Isso a FIFA não quer.
Quando os clubes bolivianos e equatorianos eram muito mais sacos-de-pancada do que hoje em dia, ninguém comentava sobre este assunto. Apenas dizia-se que para jogar lá era preciso muito cuidado. Atualmente existem treinamentos específicos para os atletas que atuarão naquelas condições atmosféricas. O Brasil já lá venceu uma Copa América (1997). Os grandes clubes sul-americanos têm mostrado que, quando jogam na altitude, jogam de igual para igual.
Não se trata da proibição de se jogar em condições adversas, de que não devem ser permitidos os jogos em altas temperaturas, neve ou chuva intensa. Se o plano de ação da FIFA condisser com o seu novo lema: “For the Game. For the World” (Para o Jogo. Para o Mundo), ela não pode tirar esse direito, por exemplo, de um cidadão do altiplano boliviano de ver a sua seleção jogar em uma região que pertence ao seu país. Se for para o desenvolvimento do jogo e uma ferramenta da paz no planeta, o futebol deve ser jogado, adaptado ou não, por todos os cantos: seja no Rio de Janeiro a 40ºC, na Groenlândia ou nas alturas do Tibete.
Virgílio Franceschi (Jornalista)
Um comentário:
Que coragem,sair do senso comun.Isso é democracia!Parabéns!
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