sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Música

Eu tinha 9 anos de idade. Em minha terra, lá no interior do Brasil, houve um show de música. Um show com a maior cantora do Brasil à época: Elis Regina. Fui ao show com meu pai.
Chegamos, o palco estava arrumado. Um piano à minha esquerda, uma guitarra à direita do piano, uma bateria no centro do palco, um baixo à direita da bateria. Tudo pronto.
Do lado esquerdo do piano, no canto do palco, uma cadeira. Vazia. Sem nada em cima. Uma cadeira posta ali, jogada. Perguntei a meu pai o que fazia ali uma cadeira. Ficamos os dois na dúvida.
Começa o show.
Elis Regina canta como nunca. Como ninguém. A afinação precisa é embalada pela incrível capacidade de improvisação, pelo “balanço” intraduzível, pela emissão de cada palavra da música pronunciada com a mais pura Verdade possível. Cada palavra que saía da boca daquela cantora de 1,53 metros de altura soava como palavras ditas em voz alta por um gigante.
Elis Regina cantou, pulou, dançou.
A certa altura, dirigiu-se para o lado esquerdo do palco e sentou-se na cadeira ali abandonada. Sentou-se ali e cantou Corcovado, de Tom Jobim.
Após as primeiras notas cantadas ali, daquela cadeira, finalmente eu descobri o porquê da existência das cadeiras na Terra. Elas tinham nascido para aquele momento. O momento em que, sobre elas, Elis Regina cantaria a Vida.

2 comentários:

Maíta disse...

É interessante ver como a Vida se manifesta em "pequenas" coisas.
A diferença é a importância que cada um dá á ela. Muitos que estavam presentes no show até hj não sabem o porquê da cadeira.

Maíta disse...

O que vc acha da Maria Rita?