quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Literatura

Alcanço com a mão um livro. Dele, roubo uma frase de Carlos Drummond de Andrade, nosso poeta-maior:

Meu pai perdi no tempo e ganho em sonho.
Se a noite me atribui poder de fuga,
sinto logo meu pai e nele ponho
o olhar, lendo-lhe a face, ruga a ruga.

Olho para o meu lado direito. Minha face encontra-se estampada no espelho do escritório. Nela, rugas e mais rugas que inda ontem não as tinha. Ora fazem morada definitiva em meu rosto estático, perplexo. Relembro outros versos do poeta:

E eis que assisto ao meu desmonte
Palmo a palmo
E não me aflijo em me tornar planície

Eis no que me tornei: planície. Plana, plena, pacata, serena.
Deus nos rouba o pai. O tempo nos rouba o viço. Quem nos tira a Força?

Um comentário:

Maíta disse...

"A alma nasce velha e se torna jovem. Eis a comédia da vida. O corpo nasce jovem e se torna velho. Eis a tragédia da alma."

Oscar Wilde

Kré, vamos fazer assim, apenas VIVER. Do resto, a maré se encarrega.